O mais incrível é que a criança ou o adolescente não
consegue falar sobre o abuso e seu abusador e, assim, guarda
o problema sob sete chaves, sendo que no coração o maior
desejo é conseguir se libertar das lembranças, da dor, do ódio
e de tudo o mais que vai sendo gerado em sua alma.
O abuso infantil é qualquer conduta sexual com uma criança levada a cabo por um adulto ou por outra criança mais velha. Isso pode significar, além da penetração vaginal ou anal da criança, o toque em seus genitais, fazer com que a criança toque os genitais do abusador, ou o contato oral-genital ou, ainda, roçar os genitais do adulto ou da criança. Às vezes, ocorrem outros tipos de abuso sexual que chamam menos atenção, como, por exemplo, mostrar os genitais a uma criança, incitar a criança a ver revistas ou filmes pornográficos ou utilizá-la para elaborar material pornográfico ou obsceno.
Como identificar uma criança ou adolescente que sofreu abuso sexual? A presença de sinais e sintomas, se muito intensos e combinados, devem-nos alertar para a possibilidade de abuso sexual:
- Mudança súbita de comportamento na escola, incapacidade de concentração e diminuição do rendimento escolar.
- Mudança na personalidade e necessidade de ser estimulada.
- Falta de confiança num familiar adulto, medo de ficar sozinha ou com determinado adulto.
- Isolamentos de amigos, familiares ou das atividades cotidianas.
- Medo de algumas pessoas ou lugares.
- Excesso de limpeza ou total despreocupação com a higiene.
- Incontinência para a urina ou fezes, alteração dos hábitos intestinais.
- Pesadelos ou perturbações no sono.
- Interesse especial e precoce por sexo.
- Retorno à infância, inclusive a comportamentos típicos de bebês.
- Depressão, ansiedade, afastamento, tristeza, indiferença.
- Automutilação.
- Tentativa de suicídio.
- Fuga.
- Problemas com álcool e drogas.
- Problemas de disciplina ou delinquência.
- Atividade sexual precoce (simulações, vocabulário, masturbação, desenho).
- Gravidez precoce.
- Problemas médicos como infecções urinárias, leucorreias, rectorragias, dor pélvica ou hemorragia vaginal inexplicáveis e recorrentes.
-Dores, inchaços, fissuras ou irritações na boca, vagina e ânus.
O mais incrível é que a criança/ o adolescente não consegue falar sobre o abuso e seu abusador e, assim, guarda o problema sob sete chaves, sendo que no coração o maior desejo é conseguir se libertar das lembranças, da dor, do ódio e de tudo o mais que vai sendo gerado em sua alma.
São inúmeros os fatores que levam uma criança a ocultar o abuso a que foi sujeita. Entre eles, medo de represálias por parte do agressor, sentimentos de vergonha, culpa, insegurança ou proteção (irmãos mais novos), medo de interrogatórios e da devassa da sua intimidade ou da família, exposição pública e estigma social, dentre outros.
Esse silêncio, contudo, permite que o abuso se perpetue, convertendo-se no pior inimigo do menor e no maior aliado do agressor, levando a criança a experimentar um sentimento de culpabilidade que a impede de confiar, de amar e de estabelecer uma relação saudável no futuro.
De forma alguma podemos aceitar o contato sexual com uma criança como sendo normal. Ela é totalmente dependente dos adultos para sobreviver, ter afeto, atenção e tem o direito ao respeito puro e natural. Nenhuma criança deseja o toque íntimo, mas se submete, por exemplo, por medo de magoar os sentimentos do ente querido, e geralmente confia nos adultos, mesmo quando eles não são dignos de confiança, porque não tem outra escolha. Quando a confiança é traída, aprende que não pode confiar no mundo.
Muitas vezes, tudo que nos ensinam está condicionado a sexo. Respiramos sexo em nossa sociedade, através dos canais de TV, filmes, novelas e tantos outros meios aos quais permitimos que nossos filhos tenham acesso. A criança, sendo traída, abusada, perde a identidade. Consequentemente, passa a acreditar que não é digna de atenção e carinho gratuito e paga com sexo, com toque e com permissão para ser tocada. E, mais uma vez, perde a identidade, num círculo vicioso.
Em 2006, o secretário-geral das Nações Unidas transmitiu à Assembleia Geral da ONU um relatório mundial sobre a violência contra crianças, preparado por um especialista. De acordo com o relatório, estima-se que, num ano recente, 150 milhões de meninas e 73 milhões de meninos abaixo de 18 anos foram "forçados a manter relações sexuais ou sofreram outras formas de violência sexual". Esses números são surpreendentes, mas o relatório declara: "Sem dúvida, esse cálculo é subestimado." Uma análise de pesquisas feitas em 21 países indicou que, em certos lugares, até 36% das mulheres e 29% dos homens haviam sido abusados na infância e que, em sua maioria, os que cometeram abuso eram parentes das crianças.
O abusador costuma ser esperto demais para usar a força contra suas vítimas. Em vez disso, prefere seduzir a criança aos poucos. Ele começa escolhendo um alvo, na maioria das vezes uma criança que pareça vulnerável e ingênua, relativamente fácil de controlar. Em seguida, passa a dar atenção especial à criança. Pode ser que tente conquistar a confiança dos pais dela. Em geral, os molestadores são peritos em fingir que têm interesse sincero na criança e na família e, com o tempo, começam a preparar a criança para o abuso.
Pouco a pouco, aumentam o contato físico com ela por meio de "inocentes" demonstrações de afeto, brincadeiras para afastá-la dos amigos, irmãos e pais, com o objetivo de ficar a sós com ela. Em algum momento, pode ser que peçam para esconder dos pais pequenos segredos como um presente ou planos para um futuro passeio. Essas táticas preparam o caminho para a sedução.
Quando conquista a criança e seus pais, o abusador já está pronto para agir. Novamente, é provável que seja sutil, não usando violência ou força. Talvez explore a curiosidade natural da criança sobre sexo, dizendo que será um "professor", ou talvez diga que vão fazer uma "brincadeira especial" que só os dois podem saber. Pode ser que coloque a criança em contato com pornografia com o objetivo de fazer esse comportamento parecer normal. Então, se conseguir abusar dela, sua maior preocupação será garantir que não conte a ninguém o que aconteceu. Para isso, entre outras coisas, poderá fazer ameaças, chantagens, colocar a culpa na criança e até usar uma combinação dessas táticas, com frases do tipo:
"A culpa é sua. Você não disse que eu devia parar."
"Se contar aos seus pais, eles vão chamar a polícia e eu vou ficar na cadeia para sempre."
"Esse é o nosso segredo. Se você contar, ninguém vai acreditar. Se seus pais ficarem sabendo, eu vou machucá-los."
Lamentavelmente, a lista das táticas enganosas e maliciosas que podem ser usadas não tem fim.
O que devemos fazer como pais é permitir que nossos filhos confiem em nós.
Abrir para eles as portas da confiança, criar círculo de amizade e dialogo ficar atento a qualquer mudança de comportamento a qualquer sinal que eles possam querer nos passar, faça de seu filho o seu melhor amigo. Essa é uma das formas de guardar o seu filho.